04 de abril de 2011
Hoje o 020 bateu um recorde. Uma hora da minha casa ate a praça universitária. E se a viagem estivesse normal, nem seria tão ruim. Mas hoje tínhamos um passageiro famoso no busão.
Logo que entrei já escutei uma barulheira no meio do ônibus. Duas crianças, com 5 anos, pulando nos bancos. Sabe aqueles vermelhos reservados à idosos? Pois bem. A mãe do mais atentado estava na frente dele, sentada na poltrona dos deficientes, com uma bebezinha de uns 5 meses.
O bom é que ela danava com ele, e falava: “Riqueeeeelme eu vou te bater!” – isso mesmo, a criatura se chamava RIQUELME – e ele respondia: “Pode bater, eu adoro apanhar”. Era um gordinho, moreninho com dois risquinhos de cabelo raspado na lateral da cabeça, todo pomposo. E Pulando, e a mãe danando, e ele achando bom. Acho que o combustível do Riquelme era a bronca.
Até que ele levantou do banco, e encostou perto de mim. Ai a mãe já danou, “Riquelmeee, segura no ferro”. Mas ele, como bom menino que é, soltou as mãos e tirou a camiseta, mostrando sua cueca do Bad Boy. Não contente, e talvez entediado com a viagem, eis que Riquelme começa a apertar a botão para solicitar a parada, e o motorista foi parando, e ninguém descendo.
Até que um rapaz do meu lado chamou o Riquelme: “Menino, vem aqui escutar música oh!”, e como num passe de mágica, o moleque senta, bota o foninho no ouvido e quieta. Assim deu pra chegar no destino.
Mas o melhor do dia estava na volta. Um bêbado sentado no meio do ônibus, cantando as mulheres. Carregando um livro de uma aqui, a bolsa de outra ali, assoviando pras motoqueras lá de fora, e contando piada pro povão. Acho que só eu que tava rindo dele.
Uma hora o motorista deu uma freada brusca, o povo tudo começou a xingar e danar com o motorista, e eis que o bebim com a cara mais lerda do mundo griga: “Chegaa o beteee motoristaaaa!!!”. Eu comecei a rir, e ai que ele achou bom. Só precisava de platéia, ficava olhando pra mim e contando piada.
No terminal, ele foi um dos primeiros a descer, e naquele tumulto, muita gente querendo sair do busão, ele gritou, já lá do chão: “Pode irrr motoristaaaa, já to de fora”. E não é que o motoras foi saindo! E o povo gritando: “esperaaa, esperaaa”.
Cheguei em casa bastante cansado, mas não menos desestressado. O 020 pode ser o expresso do inferno, mas se agente ver pelo lado cômico, acaba sendo um psicólogo.
Por A.L.T.